A dica de sustentabilidade de hoje é sobre compostagem. Trata-se de um procedimento simples, barato e com enorme dividendo para o planeta.
Caso você cultive algumas plantas em seu apê ou esteja empenhado na execução de uma horta comunitária no condomínio e ainda não aderiu à compostagem em seu próprio espaço, que tal começar? Além de tudo, pode ser uma excelente atividade para desenvolver junto aos pequenos.
Que tal, então, passarmos logo ao que interessa?
Compostagem é um processo de reciclagem dos resíduos orgânicos — o que poderíamos chamar de lixo de cozinha: cascas e sobras de vegetais e outros materiais que não têm espaço na coleta seletiva, sendo normalmente descartados no lixo comum e despachados para aterros sanitários.
O processo consiste em transformar esses resíduos em adubo, para uso em vasos, jardins e hortas. Trata-se de um processo muito comum a quem vive no campo, mas perfeitamente adaptável ao meio urbano.
Embora boa parte do descarte de cozinha pareça inofensivo (afinal, trata-se de lixo orgânico, não é mesmo?), esse material cobra um duro pedágio do meio ambiente.
Quando largado em aterros sanitários — em muitos casos, um eufemismo para designar lixões a céu aberto —, o lixo orgânico potencializa a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, uma vez que a sua decomposição gera gás metano (CH4), composto 25 vezes mais prejudicial à camada de ozônio que o gás carbônico (CO2).
Uma estimativa do Ministério do Meio Ambiente feita em 2015 calculou em 32 milhões de toneladas o montante de lixo orgânico produzido no Brasil, o que dá 88 mil toneladas por dia. Imagine o impacto disso no meio ambiente.
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais da metade disso poderia ser transformado em adubo, se estivéssemos mais engajados na compostagem doméstica, o que esvaziaria consideravelmente os lixões.
Se você ficou aí pensando que mexer com lixo e (argh!!!) minhocas não deve ser a coisa mais agradável que existe (ou mesmo saudável: “Não vou pegar doença desses bichos?”), largue agora mesmo de frescura: o procedimento é bem higiênico e as minhocas podem até fazer as vezes de bichinho de estimação, caso assim o deseje.
Basicamente, você precisará de três caixas empilháveis de plástico (uma delas com tampa, a outra com torneira) para produzir a sua composteira doméstica. Você pode improvisar alguns recipientes já existentes em sua área de serviço ou quintal ou adquirir um kit específico para a função a preços que variam bastante, a depender da sua necessidade (de R$ 80 a R$ 300, mais ou menos, no Mercado Livre). De qualquer forma, uma agropecuária ou casa de jardinagem nas proximidades é um bom local para procurar.
As duas caixas de cima (digestoras) devem possuir furos, para permitir que as minhocas transitem de uma para a outra e o líquido decomposto escoe. A última serve para coletar esse resíduo líquido (chorume) e é onde vai a torneira. Ela serve para coletar o chorume que, diluído em água, é um ótimo fertilizante para borrifar nas plantas.
Existem duas formas de se fazer uma composteira doméstica: com e sem minhocas.
Se preferir introduzir os simpáticos anelídeos da classe Oligoqueta na equação, saiba que estará optando pela vermicompostagem. A principal vantagem é que as minhocas aceleram o processo de transformação dos resíduos em adubo (no caso, húmus) e contribuem para a higienização da composteira.
A espécie mais indicada é a Eisenia Andrei, a popular minhoca californiana. Sua vantagem competitiva em relação às outras 260 espécies, em média, existentes no país, é que ela se dá bem em cativeiro e é rápida em se reproduzir e processar o húmus.
Dependendo do tamanho de suas caixas, serão necessárias de 100 a 200 minhocas. Antes de colocá-las para trabalhar, cubra o fundo da caixa superior com uma camada de folhas secas e pequenos galhos ou com serragem. Sobre esse dreno você instalará a terra com as minhocas. A camada seguinte será formada pelos resíduos orgânicos destinados à compostagem. Cubra-os com uma última camada de folhas secas ou serragem para garantir a oxigenação e evitar mau cheiro.
A compostagem sem minhocas é quase igual. A diferença é que o processo de produção é mais demorado e fica um pouco mais complicado controlar o odor e a incidência de mofo.
Entretanto, existe um modelo de composteira automático, ligado à tomada, que não requer minhocas, exige quase nenhuma manutenção e processa resíduos em 24 horas (a média de uma composteira tradicional é dois meses). Trata-se de uma solução sob medida para quem deseja ajudar o meio ambiente mas não quer dispender muito tempo ou mão de obra.
Os resíduos orgânicos podem ser colocados na composteira doméstica diariamente.
Entre as matérias que se pode usar como alimentos para as minhocas temos as cascas e sobras de frutas, legumes e verduras (frutas cítricas devem ser usadas com moderação; do contrário, podem acidificar o composto e prejudicar tanto as minhocas quanto as plantas).
Cascas de ovo, borra de café, sachês usados de chá, a erva-mate usada no chimarrão, grãos e sementes também servem de alimento. Sobras de carne e arroz, iogurte, leite, feijão cozido, limão, pimenta, cascas de alho e cebola (salvo em composteira sem minhoca) estão vetados.
Esses resíduos devem ser picados e amontoados no canto da composteira, e não espalhados por toda a superfície. Ao cobri-los com as folhas secas, certifique-se de que essa cobertura não está impedindo a passagem do ar, o que eliminaria as minhocas. Aliás, escolha um local arejado para instalar sua composteira, ao abrigo do sol, da chuva e do vento.
Por outro lado, ao coletar o húmus, submeta a sua composteira à luz solar, de maneira que as minhocas se escondam e você possa retirar a matéria (não esqueça de deixar uns dois ou três dedos de terra como “cama” para elas). Também é importante controlar a umidade, pois esta dificulta a ação das bichinhas.
Assim que a caixa de cima estiver cheia, troque-a de lugar com a do meio, permitindo que as minhocas façam seu trabalho enquanto a outra caixa recebe sua carga. E, assim que a primeira carga tiver sido processada, é só coletar e usar em vasos e canteiros.
À primeira vista, a compostagem pode parecer um processo complexo e cheio de etapas. No entanto, com algum cuidado, logo você pega o jeito. Além de representar uma importante mudança de hábito e uma contribuição efetiva para a preservação ambiental, também proporciona uma fonte bacana de aprendizado e alguns momentos agradáveis de interação em família. Ou seja, motivos não faltam para tentar!
Esperamos que este conteúdo tenha feito você querer implantar esse exercício de sustentabilidade em seu dia a dia. Aproveitamos ainda para sugerir estas dicas de economia de água. Nestes tempos em que esse bem precioso vive sendo vilipendiado, uma mudança de atitude se faz urgente, concorda? Então, “bora” mudar o mundo!
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